terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O que custa na saída de Correia de Campos

Há áreas da governação que são extremamente delicadas por natureza e em que a popularidade dos governantes costuma estar nos patamares mais baixos. Finanças, Saúde e Educação são algumas dessas mais delicadas e fulcrais áreas.
Se em termos de Finanças Teixeira dos Santos tem dado provas da sua competência e qualidade, e os números do seu trabalho não enganam a boa obra que o responsável da Fazenda tem desenvolvido, nas outras áreas delicadas, da Educação e da Saúde, sabia-se que o Governo tinha em Maria de Lurdes Rodrigues e Correia de Campos dois dos melhores governantes.
Se a Ministra da Educação desenvolve uma política necessária, ainda que pouco popular, enfrentando bastantes resistências, sobretudo dos imobilistas do costume que têm grande peso no sector educativo - mas num país que tanto investe em Educação e tão poucos resultados obtém, em comparação com os seus parceiros da OCDE, a situação carecia de mudança, de modo a colocar a Educação ao serviço do desenvolvimento do País, e Maria de Lurdes tem feito isso; já na Saúde, um qualificado técnico da área geria um dos Ministérios que mais orçamento consome do bolo do Estado.
Simpatize-se ou não com Correia de Campos, mas este teve a virtude de estancar o esbanjamento do Ministério da Saúde (e como foi enorme e não orçamentado nos Governos PPD/CDS). Simpatize-se ou não com Correia de Campos, mas este tinha uma política pública de Saúde que, infelizmente, não a concluiu.
Tal como a mulher de César, não basta ser e, a Correia de Campos, faltou o parecer. Os portugueses sabiam, e sabem, que ele é uma pessoa que reúne as qualificações para o cargo, porque sabem que ele tem uma visão para o sector.
Quando tanto dizem que este Governo é de 'show', foi precisamente 'show', com 'powerpoint' o que faltou a Correia de Campos, que há muito devia ter apresentado ao País o seu plano global para o sector. Como não o fez, o que erradicaria todas as dúvidas, poderia causar, como é natural, algumas resistências, mas pelo menos sabia-se ao que vinha e o que ia fazer. Assim, acabou por governar a apagar fogos locais. A imagem pública desgastou-se e o descrédito assomou-se.
Correia de Campos sai do Governo, mas a sua política reformadora do sector não pode terminar, sob pena de se comprometer o serviço público de saúde a médio prazo.
Hoje, muitos podem manifestar alegria com a saída do Ministro, mas não deviam, pois o que custa na saída de Correia de Campos, é saber que deixa de exercer funções alguém que tinha um projecto público para o sector.
Os que hoje 'celebram' são aqueles que querem um Hospital em cada esquina. Mas destes, não se pode esperar que tenham na garantia e valorização do serviço público de Saúde um princípio, apenas transpiram a hipocrisia, porque no fundo não querem saber dos serviços e da qualidade com que o Estado deve prestar aos portugueses.

3 comentários:

Anónimo disse...

Totalmente de acordo.

Anónimo disse...

Só ficarei contente quando remodelarem esta espécie de primeiro-ministro.

António P. disse...

também totalmente de acordo