Há quem aprecie o modelo das Presidências rotativas da UE, modo de dar projecção a cada um dos Estados-membros da UE. Como português, devo reconhecer que Portugal, sempre que assumiu a condução dos trabalhos europeus: 1992, 2000 e 2007, sempre deu provas de ter uma grande capacidade de organização e dinamismo, em especial as duas últimas Presidências que projectaram o futuro da UE e prestigiaram o nosso País.
Mas os tempos, cada vez mais, requerem uma UE interventora e efectiva, face aos tempos incertos e complexos que vivemos, sob pena dos 500 milhões de europeus continuarem a perder competitividade e contarem com menos segurança, nesta era globalizada.
Estes primeiros dias da Presidência checa vêm demonstrar como o modelo das Presidências está esgotado. A UE não pode ficar debilitada por um país ter pouco peso externo e, principalmente, pouca experiência de condução dos processos mundiais.
Em quatro dias, dois problemas à qual a Presidência checa ficou nas lonas: o conflito do Médio Oriente e a crise do gás, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que já afecta a vida de milhares de pessoas da Polónia, Hungria, Roménia e Bulgária.
Se no caso do gás os checos até se demitiram de querer dirimir o conflito, como se não houvessem europeus prejudicados, no Médio Oriente foram cometidos erros graves, com leituras pouco dignas vindas de Praga, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros checo a ter de corrigir a palavra de um alto quadro da diplomacia checa.
Por outro lado, assiste-se a um atropelo institucional, com Sarkozy, novamente, a ter uma atitude de deselegância. Primeiro foi com a Eslovénia, antecessora da França na condução da Presidência, com Paris a antecipar-se a Liubliana em vários dossiers, agora com a República Checa. Quem devia estar em périplo pelo Médio Oriente, em nome da UE, devia ser o Primeiro-Ministro checo, acompanhado do Senhor PESC. Ao invés, anda hoje, o Ministro dos Negócios Estrangeiros checo em périplo pelo Médio Oriente, e amanhã andará Sarkozy, com a pompa devida, que terá, naturalmente, dado ser o Chefe de Estado de uma das grandes potências europeias, mas que por si só, a França, não chegará para travar a escalada do conflito em Gaza, pois não tem o mesmo peso do que representar 27 Estados-membros.
E o incómodo na UE começa, e bem, a ter lugar, pois várias das infra-estruturas destruídas por Israel em Gaza foram pagas com o nosso dinheiro, dos contribuintes europeus.
Quem pensa que o Tratado de Lisboa não faz falta, eis mais um exemplo de como a actual arquitectura política não nos serve, não representa o potencial europeu e não conseguimos ser efectivos na nossa posição no mundo.
(Publicado no Câmara de Comuns)
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