As tréguas não são um processo unilateral de Israel mas baseiam-se numa iniciativa originalmente proposta pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner. Este e o ministro israelita da Defesa, Ehud Barak, debateram hoje a proposta por duas vezes, em dois telefonemas, precisou um responsável da diplomacia francesa.
A proposta de Kouchner vai ao encontro das pretensões israelitas, que em momento algum devem ter equacionada a invasão de Gaza, ainda que tivesse feito questão de manifestar essa hipótese. E são várias as razões para essa não missão terrestre. A primeira, pelo confronto, em terra, com a demografia de Gaza. A segunda, pela impossibilidade de numa intervenção militar terrestre justificar mais mortes de civis, quando apenas se pretende combater o Hamas. A ter lugar, o número de mortes dispararia. A terceira, e mais sensível para Israel, em particular para os seus governantes, a forte eventualidade de haver baixas. A poucas semanas das eleições, a morte de soldados israelitas seria o desacreditar das candidaturas do Kadima e Trabalhistas, que presentemente conduzem o Governo, e um claro reforço do já liderante Likud. Não creio, por isso, que haja uma intervenção terrestre.
De assinalar que nas últimas horas o Ministro da Defesa e líder trabalhista, Ehud Barak, tem recuperado algum do muito crédito político perdido, fruto dos conhecimentos da sua carreira militar a par da vasta experiência governativa que já tem (que diferença com Peretz, o sindicalista que liderou os trabalhistas e conduziu, na qualidade de Ministro da Defesa, a intervenção desatriculada e desastrada no Líbano há pouco mais de dois anos).
Israel já ultrapassou muito dos seus objectivos, de derrubar pontos estratégicos do Hamas em Gaza. Mostrado e sentido o rugido do leão, é hora de este abrandar, sob pena da sua intervenção poder meter água.
O tempo, em termos de política interna israelita, é de colher frutos por parte de cada um dos candidatos e, aqui, Livni e Barak têm mais argumentos do que Netanyahu.
Devo reconhecer que a Presidência francesa da UE actuou bem neste caso, surgindo com uma proposta concreta e atempadamente, ao contrário do que sucedera no conflito do Cáucaso, no Verão passado, quando apareceu tarde.
(Publicado no Câmara de Comuns)
Cuidado com o 'recuar'. Com vizinhos desses nunca se sabe!
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