Faixa de Gaza: Invasão terrestre vai durar “muitos longos dias”
A intervenção terrestre não estava nos planos de Israel, até que uma reunião ministerial, sexta-feira à tarde, decidiu assumir a operação. As tréguas sugeridas por Paris a meio da semana caíram e não houve, depois, vontade de se encontrar campos de diálogo.
Em Israel, a campanha eleitoral deve ser feita com cobertura da intervenção terrestre que, a estender-se como Barak já avisou, não vai ser "curta nem fácil", pode conduzir ao enfraquecimento do Likud, grande favorito, ou ao seu engrandecimento.
Se a intervenção militar reforça o Kadima e os Trabalhistas, e retira argumentos aos falcões do Likud e da extrema-direita israelita, o surgir de soldados mortos e detidos pode sortir o efeito inverso. Hoje quase toda a população de Israel, de acordo com as sondagens, é a favor da missão terrestre. E talvez aqui reside um estímulo para o Governo decidir avançar com a missão terrestre. Porém, como sucede na opinião pública, em que os sentimentos e leituras são voláteis, nos próximos dias, mediante o impacto e alcance das operações, este apoio pode cair de modo abissal.
Na Palestina, apesar do enfraquecimento militar do Hamas em Gaza, que sairá mais débil deste ponto de vista, o Hamas ganha, e muito, em apoio popular. Por outro lado, o Hamas está a ser inteligente, procurando colar a posição da Fatah a Israel, na outra guerra, a civil, entre os palestinianos que há meses divide os palestinianos e continua bem presente, ainda que não seja a mais presente, dada a voz das armas que se fazem sentir de modo mais incisivo neste período.
Não considerei que Israel se metesse por Gaza adentro, pois não se sabe quando sairá, e o seu objectivo de derrubar o Hamas não acontecerá. Não pelo enfraquecimento da oligarquia do grupo mas pelo suporte das pessoas ao grupo, que continua a aumentar a cada dia que passa e à medida que Israel sobe o tom da intervenção, já de si pesada.
Provavelmente, dentro de uns tempos, quando as armas deixarem de ser usadas com tanta frequência, veremos as duas partes, cada um com o seu argumento, reclamar vitória.
Como sabem os governantes israelitas, o Hamas não vai perecer, sai, até, mais forte deste conflito, não perante Israel, mas os palestinianos e o mundo árabe e muçulmano. E esse objectivo Meshaal já alcançou. Mas não parece ser essa a preocupação imediata do Governo de Israel, mais preocupado com o poder de Tel Aviv.
O tempo acabará pode elucidar se este conflito tem a ver ou não com interesses internos da cada parte.
A fraqueza da UE, como actor político mundial, continua patente - a falta que faz o Tratado de Lisboa para dar efectiva competência de intervenção à União Europeia! A transição de Administração norte-americana também não ajuda. Washington nem se faz sentir nem se sabe onde está. E Blair, o enviado do Quarteto, nem se vê. Cada parte está por si e quem paga a factura, mais uma vez, são os inocentes das duas partes!
(Publicado no Câmara de Comuns)
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