domingo, 10 de agosto de 2008

O outro lado da intervenção russa na Geórgia - a vingança serve-se fria

Os EUA devem estar a sentir o que Moscovo viveu quando o Tio Sam apoiou e suportou a declaração unilateral de independência do Kosovo.
Todavia, há uma diferença neste caso da Geórgia, com nítida vantagem para a Rússia, Washington perde mais com um enfraquecimento de um aliado no Cáucaso do que a Rússia com a amputação da irmã-eslava Sérvia.
Se se verificar com cuidado o discurso de Moscovo nestas últimas horas, as palavras são uma cópia fiel do que Washington disse quando interveio nos Balcãs, no final da década de 90. Mais abaixo referi que os russos evocariam a figura da "legítima defesa", Medvedev e Putin referem o combate a um iminente "genocídio" e ser uma intervenção "humanitária".

4 comentários:

Anónimo disse...

Tem toda a razão neste ponto, o que mostra a falta de razão da outra posta em que pretende estabelecer um paralelismo com o caso da Estónia - o argumento no caso da Geórgia é um bocadinho mais forte, como bem refere, os EUA, tal como a França e outros, puseram-se a jeito com o precedente kosovar, e a presidência georgiana também ajudou, bastante!
PJMODM

CMC disse...

Caro(a) PJMODM,
Não sei se recorda da tensão de há pouco mais de um ano, no Báltico, mas recorde-se, apesar do pouco eco que teve nesta ocidental margem europeia.
E a referência da Estónia prende-se com a importância das organizações, mais até do que a UE, a NATO, da qual a Estónia é Estado-membro. O que não lhe aconteceria, se não fosse.

PJMODM disse...

Caro CMC,
Repito que concordo com o que escreveu neste post. Em relação ao caso da Estónia também concordo que qualquer vizinho da Rússia com relação conflituosa com o gigante (como sempre tiveram os Estados bálticos) tem múltiplas vantagens políticas (económica, de defesa, em particular) em pertencer à UE e à NATO.
O que me parece é que os conflitos não são comparáveis. E como de certo sabe, o sucedido com a Estónia, com variantes, tem mais semelhança com outros conflitos sem desenlace bélico, em vários outros Estados ex-URSS do que com o barril de pólvora Geórgia.
Se para o olhar distante o traço comum aos vários Estados exURSS sobressai, as realidades (étnicas, culturais, históricas, politicas, geo-estratégicas) são muito diversas.
A necessidade, fundamentalmente interna, de afirmação da ligação moral e política da liderança da Rússia às várias comunidades russas de países ex-URSS exige discursos musculados e inflamados.
MAs apenas permite o passo georgiano excepcionalmente, matéria em que, como refere, o impulso kosovar teve o seu peso, mas a especificidade georgiana e da ossétia do sul são fundamentais e sem paralelo na Estónia (nem na Letónia ou na Lituânia).
O caso da Ucrânia é mais complexo (mas também muito distinto do da Geórgia). Quanto ao interesse da Ucrânia em pertencer à UE e da NATO tem algumas parecenças com o da Estónia, parece-me é que, pelo menos, o interesse da UE nessa inclusão é muito mais discutível (em vários planos).
Cumprimentos
Paulo Mota

CMC disse...

Caro Paulo,
Estamos de acordo.
No caso da Estónia, referi a possibilidade de uma intervenção russa no ano passado. Não fosse o 'escudo' NATO e talvez isso se tivesse concretizado. Afinal, um quarto da população deste Estado báltico é russa. País, dos três bálticos, onde os russos têm uma comunidade maior.
Quanto à Ucrânia, destacou, muito bem, o caso bastante particular deste gigante europeu. Sendo, por isso, a sua natureza ainda mais delicada. A começar, desde logo, pelas questões internas. Uma sondagem recente indicava que mais de metade da população não quer o país na NATO.