segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Putin não é um político da Guerra-Fria mas do século XXI

Através do target="_blank">Atlântico, chego a este artigo de João Marques de Almeida, no Diário Económico de hoje.
Do que se lê do texto do ex-Director do Instituto de Defesa Nacional constata-se um conjunto de argumentos válidos mas muitos deles desfasados no tempo. Mas muito predominante nas leituras que nestes tempos se fazem no Ocidente da Rússia de Putin, como se esta fosse a União Soviética. Que não é.
Há muito que a Rússia 'ultrapassou' várias das premissas apresentadas por Marques de Almeida, e que este vê como ameaça, como por exemplo a relação com a UE.
O caso da política energética é dos mais manifestos. À falta de uma (essencial) política comum, o Kremlin tem sido extremamente inteligente em manietar a UE. E está a realizar esta política há quase uma década. Em vez de negociar com Bruxelas, o que seria mais delicado, Putin dividiu para reinar, com vantagens para Moscovo e perdas, nítidas, a médio prazo, para os cerca de 500 milhões de consumidores europeus. Ou seja, negoceia individualmente.Primeiro, negociou com a Alemanha de Schröeder o pipeline que está a ser construído no mar Báltico, evitando ter intermediários, como os Estados Bálticos, a Ucrânia ou a Bielorrússia. Depois da Alemanha, foi o negócio energético com a Bulgária, porta de entrada europeu do Mar Negro, que receberá petróleo e gás russo. Após a Bulgária, foi o entendimento energético com o novo Governo de Berlusconi, que estava, entretanto a ser preparado pelo anterior Executivo de Prodi.
No que diz respeito à UE, os tentáculos energéticos russos estão a fortificar-se, e têm capacidade para asfixiar a Europa central de frio, no Inverno, se quiserem.
Em relação à Ucrânia, talvez o poder de influência de Moscovo sobre Kiev surja e o Kremlin nem precisa de se mexer muito, pois basta o frágil entendimento entre Yuschenko (Presidente da República) e Timoshenko (Primeira-Ministra) romper, para o partido pró-russo, de Yanukovich, neste momento o maior, mas não o maioritário, conquistar o poder ucraniano. E a eleição presidencial tem lugar no próximo ano. Moscovo pode acenar aos ucranianos boas recompensas energéticas, assim os rostos da revolução laranja, hoje no poder, sejam afastados.
Quanto à questão de Henrique Raposo, se depois de deixar "cair" Geórgia a Ucrânia e/ou a Polónia vão ser "deixadas cair". Tal leitura não se pode ter, como se fosse o império soviético a alastrar o poder. A Rússia de Putin nada tem a ver com a forma, muito menos métodos de conquista dos soviéticos. Se o caso ucraniano já foi referido, no polaco, os russos não querem um confronto directo com a NATO. Nem a NATO com os russos.
Os tempos são outros, e a UE e os EUA parecem que ainda estão a lidar com a URSS. Como nos enganamos com essa leitura. E nos prejudicamos.

(Publicado no Câmara de Comuns)

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