Há uma vaga de fundo da direita na Europa. Não uma direita orgânica, tradicional, herdeira de Churchill, De Gaulle e Adenauer, mas uma espécie de direita pós-moderna, com muito mercado e pouca ideologia, que vive em função dos media e faz do marketing político não só um meio mas também um fim.
O Pedro Correia coloca, e bem, o dedo na ferida: em Portugal não contamos com oposição, leia-se, um PPD forte e assertivo. E o País bem precisa de uma oposição credível, pois um sistema político sem um bom Governo e sem uma boa oposição não está completo.
Assumindo uma interpretação ibérica, o Pedro também nota que aqui ao lado, em Espanha, o PP, de Rajoy, não estando tão mal como o PPD, pouco melhor se encontra. Por isso, a derrota que hoje deverá averbar nas urnas é mais do que expectável. Quanto a este ponto, da realidade política ibérica, da esquerda e da direita, do Governo e da oposição em Portugal e em Espanha, vale a pena regressar ao caso noutro escrito depois das legislativas espanholas.
Relativamente à referência em termos de líderes políticos europeus de direita apresentada no Corta-Fitas, não concordo com todo o escrito.
Segundo o Pedro, os dirigentes de direita que ascenderam ao poder (Merkel e Sarkozy) ou estão na iminência de o alcançar (Berlusconi e Cameron) não são herdeiros da direita tradicional. Dos quatro referidos, considero que a única pessoa que se mantém fiel ao exercício da política com base em princípios e valores, que não mudam consoante o vento, e que, desse modo, está de acordo com o estilo da política da direita com valores (de Adenauer, De Gaulle, etc), é Merkel.
A Chanceler alemã, apesar de lhe faltar telegenia (basta recordar como esta lacuna lhe ia sendo fatal na eleição que disputou e ganhou por escassíssima margem a Schröder em 2005, quando os debates entre os dois lhe foram prejudicais pois deram sempre mais força ao então enfraquecido e gasto pelo exercício do poder candidato do SPD), telegenia que não falta aos outros três, reconheça-se, mas, referia, em termos de quadro de valores tradicionais, Merkel tem evidenciado ao longo do seu mandato um firme compromisso com a política que disse que ia assumir, uma vez eleita Chanceler. Por outro lado, Merkel não vive obcecada, como os três homens, nem dependente da sua projecção na comunicação. Como é gritante no caso do Chefe de Estado francês.
Sarkozy, que até há um ano, antes de ser eleito Presidente, era visto por muitos como a lufada de ar fresco na direita francesa e europeia, um ano depois revela-se uma verdadeira frustração para quem tanto acreditou na mudança que o Presidente gaulês iria realizar. A comparação que então se fez com Blair manifesta-se, portanto, totalmente inadequada.
Sarkozy já evidenciou que não está para a direita como Blair esteve para a esquerda. Afinal, nem Sarkozy mudou muito o seu partido, com Blair modernizou o Labour; nem Sarkozy alterou grande coisa na realidade francesa, que bem precisa, como Blair melhorou as condições de vida dos britânicos.
Relativamente a outro britânico, David Cameron, o mais provável, no próximo ano, será a sua vitória, face a um qualificado técnico mas pouco hábil político Gordon Brown. Se Cameron for o próximo inquilino oficial do número 10 de Downing Street, como hoje se perspectiva, sê-lo-á mais pelo demérito deste Governo do que propriamente pela sua política. Até agora, muito baseado na forma mas com muito pouco conteúdo. Conteúdo que também não é o forte de Berlusconi. O magnata italiano deve, no próximo mês de Abril, triunfar nas legislativas italianas, devido à eterna lógica da rotatividade transalpina. Ora sai a esquerda ora entra a direita. Há muitos anos que assistimos a esta rotação na política italiana e no próximo mês deveremos assistir a mais uma.
Veltroni, o candidato da esquerda, está a querer imprimir uma nova forma de fazer política em Itália, que bem precisa, e as sondagens até estão a dar bons sinais, com a diminuição de diferença entre a direita e a esquerda, porém deve ser insuficiente para retirar a terceira chegada ao poder de Berlusconi.
Por isso, concordo com o Pedro quando refere haver uma direita europeia baseada no mercado e que vive em função dos media. No entanto, nem toda a direita, felizmente, vive só da forma, também apresenta e conta com conteúdo. Raramente se refere, muito por causa da dimensão do país, o Luxemburgo, mas Juncker é um dos claros exemplos de políticos europeus de direita com princípios e obra feita, assim como se pode referir o irlandês Ahren.
Quanto à esquerda europeia, que o Pedro menciona, vale a pena recordar que no caso francês a esquerda não foi derrotada por Sarkozy, pois a direita há anos que é poder em França. À direita, no Eliseu, sucedeu a direita. Na Alemanha, o SPD enfraquece-se a si próprio, não é Merkel que anula a esquerda responsável. Mas, também sobre este ponto, em próximo escrito, voltarei ao tema.
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1 comentário:
¿Derrota del PP español? ¡Ya veremos! ¡Xa falaremos!
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