sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Admiração com a realidade?

Num comunicado divulgado no seu portal, a SEDES, uma das mais antigas associações cívicas de reflexão do país, sustenta que "sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal-estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional".

Volta não volta, eis que surge à tona o alarmismo da crise nacional.
O relatório da SEDES mais não diz algo que há muito se sabe no nosso País, que cerca de dois milhões de pessoas estão na faixa da pobreza e que ainda temos grupos, económicos, que não têm no investimento uma prioridade, mas sim a acumulação de riqueza.
Em primeiro, é preciso perder a visão de que enriquecer é pecado. O mérito de se subir a pulso na vida e ser bem sucedido deve ser destacado, não invejado. E, por outro lado, a condescendência e a compreensão para com quem não cumpre com os seus deveres cívicos e não assume atitudes dignas de pessoas responsáveis, a que tantas vezes assistimos, e somos complacentes, merece ser reprovada. E não se costuma verificar.
Ora, o nosso País começa, cada vez mais, a requerer uma profunda mudança, em termos estruturais e de comportamento. Sendo o último mais difícil de mudar, e quase sempre só ocorre depois de implementadas reformas nem sempre merecedoras de aprovação global aquando da sua implantação.
Por isso, as reformas que este Governo tem implementado, e bem, deviam, e podiam, no meu entender, ir mais fundo. De certo modo, estabelecendo uma analogia, Portugal precisa do seu período político e económico de González: refundar e reestruturar as estruturas económicas e sociais que nos permitam enfrentar o futuro.
Esta circunstância exige ao poder político, mas também aos parceiros sociais e, sobretudo, aos cidadãos, uma atitude de responsabilidade, de exigir aos outros o que se deve exigir, antes de mais, a nós próprios.
A sombra do Estado é grande, é certo, porque as pessoas também são coniventes e a querem presente, mesmo aqueles que tanto criticam o Estado.
Ao poder político deve ser exigida tanta responsabilidade como esta deve caber às instituições e aos cidadãos. Mas esta não se costuma verificar, pois o Estado é um sempre o primeiro a receber esta competência.
Enquanto não quisermos mudar, enquanto quisermos disfarçar a realidade, de baixos salários de pouco investimento na criação de riqueza que se reproduza, sem termos mais qualificações e acrescentarmos mais-valias ao que produzimos, de pouco nos vale este choradinho com a realidade nacional de vez em quando se depara.
O país só pode mudar por cada um de nós, não, como se espera, pelo que o vizinho do lado possa fazer. A célebre frase de Kennedy não era chavão nenhum!

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