segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A Igreja espanhola está a comportar-se como partido político

Através de um escrito do Tiago leio umas palavras que o André refere, em título, quanto ao facto do PSOE estar a actuar contra a Igreja Católica espanhola.
Ora, não é isso que se tem verificado, mas sim o contrário. A Igreja tem atacado o PSOE, ou, para ser mais preciso, um grupo influente de bispos espanhóis (o de Madrid e Valência essencialmente), de uma corrente mais conservadora, tem atacado os socialistas e as medidas do Governo PSOE.
O que conduz estes bispos a criticarem o PSOE e apelarem ao voto no PP?
Medidas implementadas pelo Governo, entre outras:
- Casamento de homossexuais
- A lei da interrupção voluntária da gravidez
- Lei da Memória histórica
- A forma como se estabeleceu negociações com a ETA
Os dois primeiros pontos suscitam divergência com os socialistas, pois nem a Igreja é a favor do matrimónio dos homossexuais nem da lei da interrupção voluntária da gravidez. A abordagem da Guerra Civil também não é do agrado da Igreja de Espanha, devido às cumplicidades e ligações da Igreja com a ala franquista.
Quanto às negociações com a ETA, é curioso ver a Igreja Católica desmentir o PP, que amiúde expressa que o Governo de Aznar não negociava com os terroristas bascos, quando, em abono da verdade, nesse tempo, o bispo basco sempre foi um dos interlocutores com a banda terrorista. Hoje os populares costumam dizer que nunca negociaram com a ETA, mas a Igreja confirma tais conversações.
O que incomoda a Igreja espanhola, nas negociações que o Governo de Zapatero estabeleceu com a ETA é o facto de não ser tida como uma das parceiras dos diálogos estabelecidos.
Quanto à nota emitida pela Conferência Episcopal espanhola, esta é reveladora da não separação da intervenção política da intervenção espiritual, que devia acontecer.
Que a Igreja contribua e seja uma das instituições que estimulem a reflexão e análise da e na sociedade espanhola, esse papel é válido e importante, até pelo peso que a Igreja tem em Espanha. Daí a transformar uma intervenção social numa intervenção político-partidária é que não se aceita, pois não há uma separação de funções que deve existir. Qual seria, então, o sentido de um líder partidário mandar na Igreja Católica? Nenhum. Como não faz nenhum sentido que um dos primeiros actos desta campanha eleitoral seja promovido pela Igreja, com a convocação de uma manifestação contra a política do Governo do PSOE.
A Igreja Espanhola tem realizado nos últimos tempos uma campanha político-partidária pelo Partido Popular, atacando de modo pouco elevado e nada digno para a Instituição católica o PSOE.
Por outro lado, e retomando a nota da Conferência Episcopal, verificam-se várias omissões à boa política deste Governo PSOE. Foi com este Governo que em Espanha mais se tem lutado contra a violência doméstica, uma das grandes chagas sociais que aflige o país. O ponto 10 omite isto. Foi com este Governo que Espanha mais tem contribuído para uma salutar e digna convivência entre religiões, como João Paulo II (que é referido no ponto 9) defendia, com a Aliança das Civilizações promovida por Zapatero. Foi este Governo do PSOE que assumiu uma política de migração mais humanista, tanto na qualidade de país receptor, como na ajuda aos países emissores. O ponto 10 despreza esta política.
Reitera-se: "A César o que é de César, a Deus o que é de Deus". Os bispos espanhóis, pelos vistos, não querem distinguir estas dimensões.
Talvez alguns bispos espanhóis devessem recordar que a Igreja não é um partido político.

2 comentários:

Anónimo disse...

Y el astuto Don José Blanco......¿Frotándose las manos en la calle Ferraz?

Anónimo disse...

Y el astuto Don José Blanco...¿Frotándose las manos en la calle Ferraz?